terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Inspirado por Léo

Ser um tímido notório é uma contradição. O tímido tem horror a ser notado, quanto
mais a ser notório. Se ficou notório por ser tímido, então tem que se explicar.
Afinal, que retumbante timidez é essa, que atrai tanta atenção? Se ficou notório apesar
de ser tímido, talvez estivesse se enganando junto com os outros e sua timidez seja apenas um
estratagema para ser notado. Tão secreto que nem ele sabe. É como no paradoxo psicanalítico:
só alguém que se acha muito superior procura o analista para tratar um complexo de
inferioridade, porque só ele acha que se sentir inferior é doença.
Todo mundo é tímido, os que parecem mais tímidos são apenas os mais salientes.
Defendo a tese de que ninguém é mais tímido do que o extrovertido. O extrovertido faz
questão de chamar atenção para sua extroversão, assim ninguém descobre sua timidez. Já no
notoriamente tímido a timidez que usa para disfarçar sua extroversão tem o tamanho de um
carro alegórico. Daqueles que sempre quebram na concentração. Segundo minha tese, dentro
de cada Elke Maravilha existe um tímido tentando se esconder e dentro de cada tímido existe
um exibido gritando "Não me olhem! Não me olhem!", só para chamar a atenção.
O tímido nunca tem a menor dúvida de que, quando entra numa sala, todas as
atenções se voltam para ele e para sua timidez espetacular. Se cochicham, é sobre ele.
Se riem, é dele. Mentalmente, o tímido nunca entra num lugar. Explode no lugar,
mesmo que chegue com a maciez estudada de uma noviça. Para o tímido, não apenas todo
mundo mas o próprio destino não pensa em outra coisa a não ser nele e no que pode fazer para
embaraçá-lo.
O tímido vive acossado pela catástrofe possível. Vai tropeçar e cair e levar junto a
anfitriã. Vai ser acusado do que não fez, vai descobrir que estava com a braguilha aberta o
tempo todo. E tem certeza de que cedo ou tarde vai acontecer o que o tímido mais teme, o que
tira o seu sono e apavora os seus dias: alguém vai lhe passar a palavra.
O tímido tenta se convencer de que só tem problemas com multidões, mas isto não é
vantagem. Para o tímido, duas pessoas são uma multidão. Quando não consegue escapar e se
vê diante de uma platéia, o tímido não pensa nos membros da platéia como indivíduos.
Multiplica-os por quatro, pois cada indivíduo tem dois olhos e dois ouvidos.
Quatro vias, portanto, para receber suas gafes. Não adianta pedir para a platéia fechar
os olhos, ou tapar um olho e um ouvido para cortar o desconforto do tímido pela metade. Nada
adianta. O tímido, em suma, é uma pessoa convencida de que é o centro do Universo, e que
seu vexame ainda será lembrado quando as estrelas virarem pó.

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